Sep 17, 2010

_Documentação/Diário_parte_01

Este mês estou desenvolvendo um projeto para o ArteMov Salvador, cuja temática é "Novas Cartografias Urbanas: reconfigurações do espaço público". Um pouco sobre a proposta da plataforma (retirada do site oficial):

"O Vivo arte.mov é um espaço para a produção e reflexão crítica em torno da chamada "cultura da mobilidade". Ao priorizar a utilização consciente das mídias móveis, a fim de construir formas de compartilhar o saber e o conhecimento, o programa possibilita o acesso à informação e a novas práticas artísticas. Através de uma programação cultural que explora as possibilidades criativas no campo das mídias móveis e locativas, o Vivo arte.mov propicia também a inserção de experiências afins no espaço público. Além disso, o Vivo arte.mov tem como meta o fomento de um pensamento crítico e o estímulo a pesquisas e criações que reflitam as transformações na sociedade contemporânea, ocorridas a partir da disseminação das tecnologias de comunicação móvel."

Fui convidada a realizar esse projeto devido a meu trabalho com detecção de poluição sonora e níveis altos de ruido Phonosíntese. O trabalho se resume em detectar emissões sonoras urbanas e fazer um mapeamento dos dados para que depois sejam lidos por sintetizadores digitais preparados. Há algum tempo pesquiso a potencialidade das emissões sonoras como elemento composicional, bem como, sua potencialidade enquanto indice para analise e interpretação de contextos sociais, economicos, geográficos, etc. Para realizar o projeto, convidei o Bruno Vianna. O Bruno é uma figura que ha algum tempo percebemos as interssessões de interesses que talvez se resumam na investigação da ocupação invisível do espaço aéreo. Temos particular interesse na forma que esse espaço é usado na comunicação via emissões públicas e particulares de frequências, modulações, ondas e níveis. Quais são as informações disseminadas nesse espaço? Quais são os residuos restantes dessa comunicação? Quem se beneficia e se prejudica com esse trânsito invisivel? Quais relações de poder estão sendo subjulgadas e superimpostas na organização e hierarquia espectral desse espaço? Muitas são as perguntas que tangem ambas pesquisas e agora teremos a oportunidade de investigar mais profundamente como perceber e pensar esse espectro.


Aphex Twim_window licker_spectogram writer_drawing in the sound spectrum

A minha pesquisa prévia sobre níveis de poluição sonora, além de outras apropriações e investigações no campo da escuta levou a alguns trabalhos de documetação e mapeamento do campo sonoro cotidiano, dos sons naturais, humanos, aritficiais, etc. O interesse então se expandiu para outras formas de escutar ondas que não a primária (a partir do ouvido) e a secundária (gravação e reprodução). Passei a me interessar também pelas possibilidades de transmissão e modulação de sons e sua disseminação induzida no espaço aéreo. Não apenas o som no campo da escuta como na verdade a possibilidade de investigar ondas como um todo: o campo eletromagnético. O ouvido humano não consegue escutar emissões eletromagnéticas, mas, elas são as que portam todos os meios de comunicação: de rádio a satélite, de internet a celular. Irônicamente não conseguimos escutar essa radiação eletromagnética de forma primária, mas, todos as nossas próteses para a escuta, são as primeiras a manifestar para nossa percepção, a presença dessas ondas também invisíveis ao olhar. Caixas de som, microfones, gravações, celulares, captadores, rádios, cabos, bobinas indutoras e outros tantos equipamentos sonoros tem a sua fidelidade sonora facilmente corrompida pela presença de emissões eletromagnéticas.

O convidado do projeto não apenas compartilha da curiosidade, interesse e vontade de investigar o assunto como na verdade, já está imerso no campo há anos. Em Julho as primeiras experiências em conjunto se deram em Recife, durante as pesquisas de seu projeto Eletropipas. Investigamos em sua ultima etapa as possibilidades que as pipas satélites tinham de transmitir sonoridades via FM do céu para baixo. Como elas poderiam funcionar como receptoras de ondas eletromagnéticas naturais como tempestades eletricas etc e artificiais como rádio. Bruno pesquisa telecomunicações intensamente e realiza vários trabalhos com a temática. Seu mestrado em tecnologia das telecomunicações ou telecomunicações interativas (o que é mesmo Bruno?) se alia a seu interesse subversivamente espacial de trazer assuntos extremamente técnicos e codificados ao conhecimento público. Um bom exemplo disso é o recém lançado documentário para a web sobre o hackeamento de brasileiros que vivem em áreas remotas aos satélites americanos conhecidos como satélites bolinha. O doc pode ser assistido no site do Itaú cultural aqui.

Durante o mês de Setembro realizaremos testes nesse projeto piloto para chegarmos a um posicionamento convergente quanto a nossas estratégias de medição, mapeamento, documentação e análise do espectro de ondas audíveis e eletromagnéticas.