Dec 11, 2011

[Restelinha/Palmas #3] Impressões sobre Palmas

Tão Grande, Tão Longe, Tão vazia, Tão distante...

praia de concreto

Tudo grande, novo, vazio, molhado, iluminado, distante. Sempre avistando horizontes. Em termos de cidade, confesso que é algo bem novo pra mim. Vinda de Belo Horizonte, a cidade com menos horizontes e espaços amplos do Brasil e vivendo em São Paulo, a cidade mais sem céu desse país, estar em Palmas é como estar em alguma história da construção de Brasilia ou de prosperidades das fábulas das grandes BR's que cortam o centro-oeste brasileiro. Na interseção entre Goiás, Pará, Mato Grosso, Bahia e Maranhão, Palmas é o centro geodésico do Brasil, ou seja, se o país fosse pendurado por uma cordinha, seria em Palmas o ponto do equilíbrio onde essa cordinha seria amarrada.

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´E quase impossível andar a pé em Palmas. Tudo é feito para se andar de carro ou onibus. Não existem lojinhas nas ruas, tudo é recuado da rua, os quarteirões são tão grandes que se chamam super-quadras, e, o sol não tem limites. Algumas pessoas se aventuram a andar com sombrinhas. Essa é uma típica rua de Palmas. Uma grande via ou avenida em linha reta, conectando rotatórias a rotatórias infinitas típicas de cidade planejada. Essas vias principais muitas vezes são acompanhadas de lugares nada urbanizados. Tudo é meio pelas metades. Os caminhos são todos delineados mas não existe muitas vezes ninguém ou nada ocupando esses espaços vagos, ou seja, resultado de uma cidade planejada para um milhão de habitantes com 200.000 apenas vivendo. Ainda não entendi se muitas ruas e construções são fachadas para todo o vazio que existe na cidade, ou, se isso tudo vazio é mais uma manifestaçnao do potencial capital em potencial. Fora o futuro, a real população de Palmas mora nas periferias e nessas zonas tangentes aos grandes centros e avenidas e a cidade não é construida para a população interagir e viver a cidade e sim ser transportada de uma lado ao outro através dos eixos.

Outro dia estava no ponto de ônibus, em uma estação intermediária entre a periferia e a cidade (uma distância de 25 kilometros para chegar ao centro) e achei absurda a sensação que tive sentada nesse ponto de ônibus. Nesse dia desci do ponto no lugar errado, no meio do nada, sozinha, sem informação nenhuma no ponto. Perguntei a umas pessoas como chegar e nenhuma tinha idéia de onde era meu destino. Claro, nem tinha esperanças porque a cidade é tão espalhada e (des)codificada que é desesperante ter que pedir informação sabendo que não saberão lhe informar. "Onde fica a quadra NE-X do quarteirão 602-C ?" Para completar, gastei todo o dinheiro pegando mais ônibus porque errei o caminho. Não tinha dinheiro pra voltar. Não teria como achar nenhum banco no raio de kilometros e kilometros. Ainda bem que consegui uma carona pra voltar depois.  Esse era o ponto de ônibus:

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Sentada no ponto olhando para a esquerda via a estrada. Olhando pra frente, via a imagem abaixo.

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As vezes da vontade de deixar a cidade e simplesmente sair andando pro meio de tanto lugar abandonado. Sair entrando nas vias e nas beiras de estradas em busca de lugar algum. Agora, ainda no mesmo ponto de ônibus, olhando pra trás:

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Se não fosse pelas banquinhas que algumas pessoas locais montam atrás desses pontos, seria impossível ter uma agua no sol de meio dia esperando um ônibus. Muitxs inclusive almoçam nessas banquinhas porque saem do trabalho ou da faculdade no meio do nada e não tem pra onde ir ah não ser os pontos de ônibus.

ponto de onibus na entrada da cidade

O mais bizarro é que toda essa amplitude e espaços vazios não são algo interessante, ou, digamos, que areja ou torna agradável essa capital. Isso não é uma cidade com bastante area verde mas uma cidade vazia em busca de empreendimentos, crescimento, concreto e oportunidades de negócios. Lema da cidade: Palmas, aqui sou mais feliz.  Tem gente do Brasil todo aqui, do sul, nordeste, sudeste, norte. Muitos e muitas vem recomeçar sua vida em Palmas, nessa cidade de apenas 22 anos de idade. Todxs que moram aqui viram a cidade ser construida.

traseira de caminhão com desenhos em madeira

Lados positivos e negativos disso. Não tem nada para fazer aqui, não tem cultura própria, não tem identidade. Por outro lado, todo mundo tem emprego, tem o que fazer, tem muito a construir, a se estruturar. Tem muito carro de som, igreja, buteco. Em meio  as luzes fortes da vida de novela da globo, dos sons altos da musica machista da moda, do carro mais bombado do quateirão,  da normatividade representada em cada esquina, existe gente legal e simples tentando fazer diferente. Tanto gente que nunca saiu do quarteirão aqui, como gente que veio de outras cidades e até paises.

Tento seguir com o trabalho por aqui fazendo o que tem que ser feito e tentando existir como pessoa também nesse contexto tão bizarro de cidade. Sobre a questão do transporte, sigo pegando muitos ônibus para ir para o centro mas fiz uma barganha na bicicletaria do bairro para poder me locomover na região aqui da periferia! No fim das contas, a bicicleta é definitivamente o meio de transporte mais utilizado nas subregiões e periferias. Todo tipo de gente anda de bike, idosxs, crianças, adultos, casais, pessoas sozinhas, até uma pessoa levando um fogão na bike eu já vi! rs

Tcharan! Minha locomoção DragonballZ!

Oficina Bom pedal